Novo ano, novos começos
Olá,
2024 ficou para trás e é tempo de olharmos apenas em frente: o ano que agora começa trará os seus desafios, e nós cá estaremos para os enfrentar. Não podíamos, contudo, começar este novo capítulo coletivo sem referir a irreparável e trágica perda de Pedro Sobral, presidente da APEL e diretor da LeYa. Continuaremos a lutar por um mercado editorial mais justo, diverso e inclusivo, seguindo as suas pegadas. O nosso mais profundo abraço à família e aos amigos do Pedro.
Janeiro, como é seu apanágio, promete ser um mês de lentos regressos, como uma espreguiçadela grande antes de arregaçarmos as mangas. Ainda assim, será possível encontrarem-se com as nossas escritoras aqui e ali. Destacamos o workshop de escrita «Três PequenasEestórias», dinamizado por Joana Kabuki, Mafalda Santos e Sara Rodi na Biblioteca de Belém, em Lisboa (mais informações e detalhes sobre como se inscreverem na secção «agenda»).
Embora tudo tenha acalmado no final do mês passado, temos duas entrevistas para partilhar convosco: Maria Francisca Gama e Rita da Nova falaram com a Forbes sobre o mercado editorial português, e Filipa Fonseca Silva conversou com a WOOK sobre a adaptação d’«O Elevador» para filme.
E porque não queremos que terminem esta newsletter sem sugestões de livros para ler, este mês contamos com as recomendações de Rita Canas Mendes.
Boas leituras e um excelente ano,
Clube das Mulheres Escritoras
Agenda
28 de Dezembro a 4 de Janeiro
Valentina Silva Ferreira | Bolsa de Criação Literária no âmbito do Programa Culture Moves Europe: Individual Mobility of Artists and Cultural Professionals 23/24 | Bordéus
6 e 27 de Janeiro
Valentina Silva Ferreira | Rubrica «Livros», Programa Madeira Viva | RTP Madeira | 19h30
7 de Janeiro
Elisabete Martins de Oliveira | Direto com Maria João Covas a propósito da leitura conjunta de «Onde as Garças Voam» | Canal de YouTube da Maria João Covas | 21H15
10 de Janeiro
Elisabete Martins de Oliveira | Direto com Elizabeth Trigo, sobre o ofício da escrita e livros | Instagram | 20H30
11 de Janeiro
Filipa Fonseca Silva | Conversa sobre «Admirável Mundo Verde» no clube de leitura Livros no Armazém, com Rosária Casquinha (aberto ao público) | Biblioteca Municipal de Cascais | 15H
18 de Janeiro
Filipa Fonseca Silva | Apresentação de «Admirável Mundo Verde» na livraria Indie Not a Bookshop | Cascais | 17H
Joana Kabuki, Mafalda Santos & Sara Rodi | Workshop de Escrita «Três Pequenas Estórias» | Biblioteca de Belém | 15H-19H
31 de Janeiro
Gabriela Ruivo | Jaipur Literature Festival 2025 | The Portrait of Life, Gabriela Ruivo and Tonio Schachinger in conversation | Hora a anunciar
Partilhas
Maria Francisca Gama e Rita da Nova estão na edição da Forbes deste mês, numa grande reportagem sobre o negócio dos livros em Portugal. De que forma é que olham para o mercado editorial hoje? O que é que gostariam que fosse diferente? A revista já está nas bancas.
Após duas sessões de estreia e depois de ter ficado disponível no YouTube, o filme «O Elevador», inspirado no livro de Filipa Fonseca Silva com o mesmo nome, continua a dar que falar. Numa entrevista à WOOK, a autora falou, entre outras coisas, sobre a intenção por detrás da escrita do livro e sobre a participação no processo de adaptação ao ecrã.
Sugestões de Leitura
por Rita Canas Mendes
Dano e Virtude | Ivone Mendes da Silva
Sinopse
Este livro é o diário de uma professora de Português, divorciada e perto da reforma, que vive numa pequena cidade. Mas nada aqui é corriqueiro ou aborrecido, por muito que a autora volte vezes sem conta aos mesmos temas: o calor, a solidão, a arte, as pequenas e grandes tragédia. As entradas são fragmentos do seu quotidiano, em que o banal se torna sublime. A riqueza da língua e da vida interior da protagonista (que se confunde com a da autora) fazem desta obra uma das mais originais da literatura nacional contemporânea.
Porquê?
Porque o livro é passível de ser sublinhado quase de fio a pavio. Porque mergulhamos naquele quotidiano com se fosse o nosso. Porque só uma mulher escreveria um livro assim. Porque tem frases como:
«Os meus pensamentos são sempre muito vagabundos e cada um deles bifurca noutros dois que por sua vez se dividem e cada coisa é o caminho para uma outra." "Os grandes solitários sofrem muito com as investidas do mundo." “Muitas vezes a presença dos outros é uma violência de que estão completamente inocentes.” “Se Rubinstein não estivesse a tocar dentro do meu carro a vida era muito mais difícil.” “Se eu morresse hoje de morte suspeita e viessem reconstruir o trajecto do meu último dia bastaria seguir as chávenas que esqueço pela casa. As de chá e as de café. A que fica esquecida junto ao relógio na mesa da entrada. A do sofá quando atendo o telefone e as duas aqui na secretária. As da bancada da cozinha. Assim descobrir-me era tão só saber por que chávena começar. (agora vou arrumá-las)»
«Chegada a casa descalcei-me que é a forma de me assegurar que estou finalmente longe. E a salvo.»
Giz | Gisela Casimiro
Sinopse
Nas palavras da autora: O livro mais duro. É o meu único nome, são uns quantos diminutivos, é o que ficou depois de passar pela Erosão. O giz vem do calcário. É o resto de uma pedra enorme que carreguei e ainda carrego, apenas de outra forma. Paisagem e pó.
Uma matéria com que me entretinha na hora de almoço na escola, ocupando paredes e chão, infância e adolescência; na pedreira procurar fósseis e tentar não cristalizar em formas impostas e auto-impostas. É deixar que as coisas me pesem durante menos tempo, poder apagar e reescrever dores, memórias, hábitos, crenças e comportamentos de outra forma, mais leve. É poder segurar a barra e o meu peso durante o maior tempo possível, ficar suspensa no ar e deixar-me cair em segurança. É o contraste e a ausência e o decalque.
Uma linguagem simples, directa, crua. É o que é, é o que eu sou, fui, serei, vou sendo. É o giz nas mãos como protecção antes da escalada. Poemas, uma ou outra piada, o meu diário de sonhos 2023-2011. Todas ou muitas das minhas falhas e traumas, as preocupações que tenho com o mundo. Todas as coisas que acho bonitas. E muitas pessoas. Alguns nomes, muitas pessoas.
Porquê?
Acompanho o trabalho da escritora, artista e ativista Gisela Casimiro — ora mais de perto, ora mais de longe — há vários anos, seja na literatura ou nas artes visuais e performativas. O seu talento para destilar vivências, fenómenos sociais e sentimentos é incrível. Neste livro, que se lê de um fôlego e nos deixa sem ar nos pulmões, não só nos emocionamos — aprendendo com o seu (e o nosso) mundo interior — como aprendemos muito sobre o mundo que nos rodeia, para o qual nem sempre queremos olhar. Os poemas são flechas rápidas e curtas, diretas ao coração. Vale TANTO a pena ler e reler esta pequena grande maravilha.
A Gorda | Isabela Figueiredo
Sinopse
Maria Luísa, a heroína deste romance, é uma bela rapariga, inteligente, boa aluna, voluntariosa e com uma forte personalidade. Mas é gorda. E isto, esta característica física, incomoda-a de tal modo que coloca tudo o resto em causa. Na adolescência sofre, e aguenta em silêncio, as piadas e os insultos dos colegas, fica esquecida, ao lado da mais feia das suas colegas, no baile dos finalistas do colégio. Mas não desiste, não se verga, e vai em frente, gorda, à procura de uma vida que valha a pena viver.
Porquê?
Porque a protagonista é inesquecível, porque é tão inteligente e lutadora como todos nós gostaríamos de ser, porque, segundo a personagem: «Estou aqui de passagem, é para seguir em frente, sou de ferro e ninguém me dobra». Porque os episódios são relatados com tanto humor e são todos tão certeiros. Porque nos ajuda a desconstruir as ideias gordofóbicas que estão por todo o lado e que, querendo ou não, cada um de nós interiorizou à sua maneira. Considero-o uma leitura fundamental.