No último mês do ano, acalmar
Olá,
Chegadas à reta final de mais um ano, a nossa agenda reflete uma tendência natural: passaremos menos tempo na nossa vida pública e mais em reclusão, a cuidar das vidas privadas e familiares. A época e o espírito assim o exigem, como forma de recarregar energias até abraçarmos 2025.
Duas das nossas autoras, Filipa Fonseca Silva e Valentina Silva Ferreira, partirão rumo a bolsas de criação literária — Praga e Bordéus, respetivamente, esperam por elas. E nós só esperamos isto mesmo: que voem, cada vez mais alto.
Entre programas de rádio e televisão, vão poder continuar a acompanhar-nos ao longo deste mês. No campo dos eventos presenciais, destacamos a apresentação de Observatório, o novo livro de Rita Canas Mendes, que contará com a presença da poeta Fernanda Drummond e do editor Wladimir Vaz Mourão. Mais à frente, nesta newsletter, contamo-vos um pouco mais sobre este livro. No campo dos eventos cibernéticos, destacamos a estreia do filme O Elevador, baseado no livro homónimo da Filipa Fonseca Silva.
Não pensem que esta é a última vez que vos apareceremos na caixa de email este ano, temos encontro marcado no dia 15, quando poderão ler a nossa newsletter literária, com o tema «Invisível».
Por fim, deixamo-vos com as sugestões literárias da Filipa Fonseca Silva. Se não forem a tempo de ser incorporadas nas vossas derradeiras leituras do ano, que sirvam de inspiração para presentes de Natal. Há lá coisa melhor do que oferecer e receber livros?
Boas leituras e boas festas,
Clube das Mulheres Escritoras
Agenda
30 de Novembro a 7 de Dezembro
Filipa Fonseca Silva | Bolsa de Criação Literária no âmbito do Programa Culture Moves Europe: Individual Mobility of Artists and Cultural Professionals 23/24 | Praga
6 de Dezembro
Célia Correia Loureiro | A Nossa Tarde, RTP1 | a partir das 16H00
Rita Canas Mendes | Apresentação do livro Observatório, publicado pela Urutau, com a poeta Fernanda Drummond e o editor Wladimir Vaz Mourão | Livraria Greta, Lisboa | 19H00
9 de Dezembro
Célia Correia Loureiro | Mesa de Cabeceira, Rádio Nova | Hora a informar
12 de Dezembro
Rita da Nova | BookTalks da Universidade da Maia | Auditório da UMaia | 15H00
14 de Dezembro
Rita Canas Mendes | Conversa com o tema «Letras, livros e liberdade», na Aldeia da Azinhaga | LiterÁREA - Festival de Turismo Literário do Alentejo e Ribatejo | 17H00
20 de Dezembro
Célia Correia Loureiro | RDP | 13H50
28 de Dezembro a 4 de Janeiro
Valentina Silva Ferreira | Bolsa de Criação Literária no âmbito do Programa Culture Moves Europe: Individual Mobility of Artists and Cultural Professionals 23/24 | Bordéus
Partilhas
A APEL acaba de divulgar o relatório final da conferência BOOK 2.0, onde o nosso clube esteve representado, com o resumo das reflexões tidas ao longo dos dois dias, bem como algumas recomendações deixadas pelos diferentes intervenientes.
Teatro e literatura no feminino, foi esse o mote da conversa que levou a Mafalda Santos ao podcast Mesa para Dois, da Antena 1.
O jornal SUL fez uma crítica ao mais recente livro de Filipa Fonseca Silva, Admirável Mundo Verde, que pode ser lida aqui. O mesmo livro foi ainda destacado no Jornal de Letras por Miguel Real.
A Filipa esteve também no podcast FEMINA, de Vanessa Augusto, no qual, além deste seu livro, falou de escrita, de direitos das mulheres e, claro, do trabalho do Clube das Mulheres Escritoras.
Mas não se ficou por aqui, uma vez que ainda deu uma entrevista à CNN Portugal.
A grande novidade do mês para a Filipa, no entanto, é mesmo a estreia da adaptação cinematográfica do seu livro O Elevador, um filme de Inês Barros e Fábio Rebelo, que após um pré-lançamento no Cinema Fernando Lopes, vai ficar disponível hoje, a partir das 18H, no YOUTUBE.
Terminamos as nossas partilhas com mais um podcast: Rita da Nova foi a primeira convidada da rubrica «Surtos à Mesa» do podcast Surtos Literários, no qual falou sobre a dualidade de ser escritora e leitora.
Lançamento
Observatório — Rita Canas Mendes
Editora Urutau | 2024
Neste Observatório, como noutras viagens narrativas de Rita Canas Mendes, é preciso ir com cautela. A sua escrita é metódica e ludibriosa. Entramos neste livro de forma imperturbável, conduzidos por narrativas curtas de palavras suaves, com aquele sentido de humor despudorado, aparentemente ingénuo, que traz à ideia um dia de sol com um cocktail junto à piscina. Mas, de súbito, as luzes apagam-se. O ritmo cardíaco acelera e tateamos no escuro um cadáver aberto. Sem darmos por isso, já derrapámos e embatemos nesse inequívoco acidente de crueza e jugulares expostas.
Se, num primeiro momento, achamos que deveríamos ter evitado o impacto, a verdade é que damos por nós agarrados à adrenalina de não querer parar de ver até ao fim — os finais sucedem-se e são curtos, em aberto. Como em qualquer micro-conto que nos arrebata, estendem-se em ecos de um futuro indeterminado.
Nesta viagem ao centro da terra, qual Júlio Verne que se perdeu pelo caminho, descobre-se o inferno, que para nossa surpresa nos traz de tudo, em iguais doses de candura e de crueldade. Perceber, como Rita Canas Mendes escreve, que «até Deus fica sem imaginação, às vezes», conduz-nos ao lugar do precipício; o último reduto de fundamentos como a «compaixão amorosa», onde entendemos, claramente, que «Estamos aqui / e não estamos».
Tal como a nossa voyeur, que participa ruidosamente em silêncio, também nós nos alimentamos de tudo o que queremos ver e, simultaneamente, engolimos em seco depois de tudo aquilo que não queríamos ter sabido.
Entre grãos de arroz, marinheiros de água benta, suicídios falhados e a ideia tão esquecida de que o animal já teve alma, reside neste Observatório uma possível ideia de Humanidade — e talvez os detalhes, um dia, nos redimam.
Francisca Camelo
Sugestões de Leitura
por Filipa Fonseca Silva
Os Meus Sentimentos | Dulce Maria Cardoso
Sinopse
É uma noite de temporal. A noite do acidente.
Há uma gota de água suspensa num estilhaço de vidro que teima em não cair. Há um instante que se eterniza.
Reflectida na gota, Violeta mergulha nessa eternidade e recorda aquele que pode ter sido o último dia da sua vida. Na verdade, as memórias desse dia contam toda a história de Violeta, a protagonista de Os Meus Sentimentos: os pais, a filha, a criada, o bastardo, e em todos a urgência da vida, que prossegue indiferente, como a estrada de onde ainda agora se despistou.
Porquê?
Porque adoro a escrita da Dulce Maria e penso que este livro representa muito bem a voz daquela que é, para mim, uma das grandes representantes da literatura portuguesa contemporânea. Do início ao fim ficamos suspensos, com e como a Violeta, uma protagonista cheia de falhas e por quem o leitor sente ora pena, ora repulsa, ora compaixão.
Solitária | Eliana Alves Cruz
Sinopse
Solitária é superação. É esperança. Quantas prisões existem em cada um de nós? E de quantas ainda tem o mundo de se libertar? «Eu e mamãe continuávamos ali, na gaiola dourada do edifício Golden Plate. Éramos pássaros dentro de um viveiro luxuoso, mas uma jaula deixa de ser a vilã da liberdade só porque é pintada de dourado? Tínhamos asas condicionadas que vez ou outra nos levavam para outros pousos: nossa casinha no subúrbio distante ou para algum outro lugar, mas o retorno ao ‘criadouro’ era certo.»
Porquê?
Tenho estado a descobrir autoras brasileiras contemporâneas e fiquei rendida à escrita da Eliana Alves Cruz. A história é dura, espelhando a realidade do enorme fosso social que existe no Brasil, mas aqui não há lugar para a vitimização. Acompanhamos uma mãe que é interna numa casa de gente rica, e a sua filha que acaba por partilhar o pequeno quarto da empregada. Fez-me lembrar um dos meus livros favoritos do ano passado, Limpa, de Alia Trabucco Zerán (que também recomendo muito).
A mulher que prendeu a chuva e outras histórias | Teolinda Gersão
Sinopse
A mulher que prendeu a chuva reúne 14 contos que partem da vida quotidiana mas se abrem, insensivelmente, a outros mundos — oníricos, fantásticos, terríveis ou absurdos —, que nem por isso deixam de nos pertencer e de ser o lugar onde habitamos.
Porquê?
Tal como com tantas outras escritoras portuguesas, a obra de Teolinda Gersão passou-me ao lado durante demasiado tempo, fruto de um currículo escolar que ignora as mulheres. E que pena que não se dê a Teolinda a ler em todo o lado. Os contos dela são tocantes, imaginativos e, acima de tudo, intemporais. Celebremos a sua obra.