Estamos prestes a entrar na chamada silly season, embora, dada a absurda conjuntura que vivemos, esteja por ver que jus conseguiremos fazer ao nome. Mas sabemos que vamos tentar, como todos os anos, derreter seriedade e preocupações na torreira do sol de Agosto. Por isso, antes que tal aconteça, partilhamos nesta Newsletter um documento que dá início a uma nova fase deste projecto. Chamamos-lhe o nosso Manifesto e foi apresentado e lido na Feira do Livro de Lisboa. Nele esclarecemos o que somos, as nossas motivações e os nossos objectivos. Por um lado, o Manifesto pretende esclarecer mal-entendidos, por outro, queremos que seja um passo em frente no nosso trabalho. Queremos ser mais estratégicas e canalizar melhor as nossas iniciativas, tendo em vista os propósitos que nos guiam. Convidamos-vos a lê-lo e, se concordarem com ele, a juntarem-se a nós. No lado de lá da silly season, haveremos de melhor explicar o que este juntarem-se a nós significa.
Embora dominada por este Manifesto, esta Newsletter conta, como sempre, com a agenda, onde este mês podem encontrar a Gabriela Relvas um pouco por todo o lado, incansável na divulgação de A Confissão da Defunta, e partilhas da Rita da Nova, também na sequência do lançamento do seu Apesar do Sangue.
Boas leituras e até Agosto,
Clube das Mulheres Escritoras
Manifesto do Clube das Mulheres Escritoras
Durante demasiado tempo, a literatura foi um território circunscrito, e nós, escritoras portuguesas, sistematicamente afastadas do espaço mediático, ignoradas nos currículos escolares, arrumadas em géneros literários considerados menores. Fomos notas de rodapé, musas involuntárias, as «mulheres de». É hora de tomarmos a palavra.
Criámos o Clube das Mulheres Escritoras — cujo nome é uma provocação — para juntar autoras de ficção dos mais variados contextos numa luta comum pelo alcance, reconhecimento e valorização da literatura portuguesa escrita por mulheres, desmontando os preconceitos que a silenciam. Porque, para nós, a literatura não tem género.
Apesar de as mulheres representarem a maioria dos leitores do país, continuamos a assistir a uma desigualdade no mundo editorial que privilegia os autores do sexo masculino.
Por exemplo:
· Um estudo feito em 2022 pela revista Blitz sobre a representatividade de género nos principais prémios literários portugueses revelou que menos de 30% dos premiados na última década foram mulheres. Os jurados continuam a ser maioritariamente homens e um dos prémios com mais prestígio, o Prémio José Saramago, galardoou 10 homens e apenas 2 mulheres, nenhuma delas portuguesa.
· A visibilidade mediática das escritoras é ainda muito desequilibrada, e uma análise de artigos dos principais jornais indica que se destacam muito mais obras de homens do que de mulheres.
o 10 melhores livros de 2023 para o Público: 0 autores portugueses
o 10 melhores livros de 2023 para o DN: 5 autores lusófonos, 0 mulheres
o 13 sugestões de Natal de 2023 da Visão: 0 autoras portuguesas
o 7 livros para o verão de 2024 da TimeOut: 1 autora portuguesa
· Isto traduz-se inevitavelmente nos destaques e nas vendas: em 2023, dos 20 livros mais vendidos de ficção nacional, apenas 6 foram escritos por mulheres.
Tal cenário não reflete uma escassez de talento e sim um desequilíbrio estrutural que invisibiliza e desvaloriza o trabalho das autoras. O nosso coletivo surge como resposta a esta realidade mas, também, à subvalorização da literatura portuguesa contemporânea diante de obras traduzidas, com consequências perniciosas para a produção literária no nosso país e para autores de todos os géneros.
Então, o que queremos?
· Desconstruir preconceitos relativos à escrita produzida por mulheres, consciencializando o setor editorial para os seus próprios vieses;
· Aumentar a visibilidade da literatura contemporânea escrita por mulheres, tanto nos meios de comunicação social, como nas bibliotecas, livrarias e espaços que celebram a escrita;
· Tornar o Plano Nacional de Leitura e os currículos escolares mais inclusivos a todos os níveis;
· Contribuir para o aumento dos índices de leitura em Portugal, principalmente no que toca à literatura portuguesa.
Somos mulheres, somos escritoras, e juntas lutamos para que a literatura portuguesa chegue mais longe.
Estão todos convidados a juntar-se a esta causa.
Agenda
4 de julho
Filipa Fonseca Silva | Conversa sobre percurso literário com Dora Santos Marques na Feira do Livro de Portimão | 21H30
5 de julho
Gabriela Relvas e Mafalda Santos | Conversa com Gabriela Relvas e Mafalda Santos | Festival Bang! | Convento Corpus Christi — Vila Nova de Gaia | 15H
18 de julho
Filipa Fonseca Silva | Lançamento do livro «Napoleão, o camaleão» | FNAC Mar Shopping | Porto | 18H30
31 de julho
Rita da Nova | Apresentação do livro Apesar do Sangue | Feira do Livro de Sesimbra | Horário a confirmar
Partilhas
Na sequência do lançamento do romance Apesar do Sangue, Rita da Nova tem dado várias entrevistas sobre o processo de escrita, a história e as «famílias como organismos vivos». Destacamos as conversas que teve com a Estante da FNAC, com Lifestyle do SAPO e com o Diário de Notícias da Madeira, na sequência de uma apresentação do livro no Funchal.
Diário de Aveiro destaca lançamento do quarto livro de Gabriela Relvas, que acontece dia 5 de julho, no Parque Ambiental do Buçaquinho, em Esmoriz. Houve também uma versão alargada da notícia no jornal físico.
Transformar o manuscrito no objeto livro é sempre um momento de grande magia para qualquer escritor. Gabriela Relvas fez questão de ir até à Artipol, em Águeda, assistir ao nascimento físico do seu mais recente romance.
Assiste ao vídeo na conta de Instagram da autora.
A Lénia Rufino acaba de lançar um novo Podcast, Primeiro Parágrafo, onde partilha as suas leituras. Ouçam neste link:
Gerações e gerações de homens em primeiro plano. Outras tantas a silenciar as Mulheres nas diferentes áreas de saber, saqueando-lhes os seus direitos na sociedade e a circunscrevê-las a planos e modelos inferiores, como se de apêndices se tratassem.
MANIFESTAMO-NOS? SIM! SEMPRE! PARA SEMPRE.