Olá,
Escritoras do meu País não é só o título desta newsletter, mas também o nome de um projecto que com muito entusiasmo vos queremos apresentar. Temos, aliás, várias novidades e surpresas nestes primeiros meses do ano, mas comecemos por esta.
É já no dia 15 deste mês que iniciamos um projecto, em colaboração com a Biblioteca de Beja, cuja inspiração para o título fomos buscar ao inigualável trabalho de Maria Lamas. Afinal, se ela foi às entranhas do nosso país para registar e retirar da invisibilidade as mulheres portuguesas, nós pretendemos fazer qualquer coisa semelhante, de outra forma e noutra época: mergulhar no panorama literário português e colocar o dedo na mesma ferida. Mas não é apenas para falar disto, embora disto também, que vamos estar em Beja em oito sessões, todas aos sábados à tarde. Em cada um desses encontros, juntamos duas ou três autoras do Clube, sem um tema pré-definido, e propomos que a conversa flua de maneira informal, encontrando pontos de contacto, e de divergência, no processo criativo de cada uma e na forma de estar na escrita. Haverá partilhas, leituras de excertos, espaço aberto para perguntas dos leitores e reflexões sobre o percurso de cada uma. Estamos muito entusiasmadas com este projecto, curiosas para saber por onde as conversas nos irão levar e aquilo que nos permitirão descobrir. Temos a certeza de que vocês também. O primeiro encontro conta com a participação de Filipa Fonseca Silva e Vera dos Reis Valente.
Entretanto, ainda sem levantar completamente a cortina ao que estamos a preparar para o mês de Março, deixamos um aviso: marquem na agenda o dia 8 e, nesse sábado, venham ter connosco à Fundação Saramago. Para celebrar o nosso aniversário, vamos lançar o segundo número da revista anual e desta vez não organizámos uma festa, mas uma conferência que, pelos temas e palestrantes, vocês não vão querer perder. Em breve, receberão uma newsletter especial com todos os pormenores.
Finalmente, fazemos-vos uma maldade. Porque no dia 15 de Fevereiro vão ter de escolher estar em Beja ou em Lisboa. Ou no arranque das sessões Escritoras do Meu País, ou no lançamento do novo livro de Mafalda Santos, que, depois de Enquanto o Fim Não Vem, está de volta para nos inquietar a sério. Já está em pré-venda e podem ficar a saber mais sobre ele depois da agenda.
No fim, como vem sendo habitual, deixamos-vos com sugestões de leitura. Este mês, é a Valentina Silva Ferreira que partilha três livros e explica a preferência.
Vemo-nos em breve,
Clube das Mulheres Escritoras
Agenda
31 de Janeiro
Gabriela Ruivo | Jaipur Literature Festival 2025 | The Portrait of Life, Gabriela Ruivo and Tonio Schachinger in conversation | 13H (07h30 em Lisboa) Link de acesso aqui
8 de Fevereiro
Filipa Fonseca Silva | Apresentação de Admirável Mundo Verde na Livraria Martins, no Time Out Market| Lisboa | 16H
15 de Fevereiro
Filipa Fonseca Silva e Vera dos Reis Valente | «Escritoras do Meu País», encontro mensal entre autoras do CME na Biblioteca Municipal José Saramago | Beja | 16H
Mafalda Santos | Lançamento de Aquilo que o Sono Esconde. Apresentação de Pedro Miguel Ribeiro, música ao vivo de Artur Guimarães | Teatro da Trindade — Salão Nobre, Lisboa | 14H30
16 de Fevereiro
Filipa Fonseca Silva e Mafalda Santos | Distopias — encontro de inverno do clube «Mais que Palavras», na Livraria Solidária Heróis com Capa | Carnaxide | 10H
20 de Fevereiro
Maria Francisca Gama | Mesa 2 | Correntes d’Escritas | Póvoa de Varzim | 10H
21 de Fevereiro
Ana Cristina Silva e Joana Kabuki | Correntes d’Escritas | Póvoa de Varzim | 17h30
Lançamento
Aquilo que o Sono Esconde — Mafalda Santos
Suma de Letras. Fevereiro 2025
«Um romance alucinado e viciante!» — Andrea del Fuego
«Um romance original e perturbador que vale a pena ler.» — João Tordo
Jaime é um sombrio e solitário analista de seguros, especializado em processos de acidentes de viação. Como se o dinheiro saísse do seu próprio bolso, vive obcecado com o propósito doentio de impedir que indemnizações sejam atribuídas aos lesados, e confrontado com a decisão judicial de pagamento de uma soma avultada a uma mulher que ficou tetraplégica, entra numa espiral de absurdidade e de autodescoberta.
Depois de um bizarro baile de máscaras, para o qual não tinha sido convidado, dá-se conta de que perdeu a capacidade de dormir, embarcando numa odisseia surreal, feita num estranho estado de vigília, que só terminará quando Aquilo que o Sono Esconde se revelar finalmente.
«Há fantasmas que são assim, enfiam-se por todas as reentrâncias da escuridão, esvoaçando entre e através de nós, ecoando nas nossas costas quando caminhamos sozinhos.
Podemos mantê-los presos a uma distância segura durante algum tempo, mas não nos devemos iludir demasiado. Os grilhões que os prendem são frágeis e quebradiços e num instante aí estão eles novamente, fantasmas espontâneos e renovados, regressados dos campos enevoados dos sonhos e da memória.»
Da autora de Enquanto o Fim Não Vem, vencedor do Prémio ATAEGINA 2024, para Livro Publicado.
Partilhas
Rita da Nova deu uma entrevista aos alunos da Universidade Autónoma de Lisboa, na qual falou sobre o curso de Ciências da Comunicação, mas também acerca do processo de escrita e de publicação.
Nesta interessante entrevista, conduzida pelo Paulo Ribeiro da Silva, a Filipa Fonseca Silva leva-nos não só aos bastidores do seu processo criativo, mas do mundo literário em Portugal. Lança alguma luz sobre como as coisas são o que são, porque é tão difícil dar palco a novas vozes, e como o provincianismo se mistura com um certo comodismo. Sem papas na língua, não deixa o ego descansado, referindo como contribui para a estagnação, porque uma vez conquistada voz na praça pública, muitas vezes se usa apenas para «falar de nós próprias». A Filipa recusa ser assim, e lutar contra o status quo da literatura em Portugal não é a sua única e urgente luta. Leiam, por favor.
Sugestões de Leitura
por Valentina Silva Ferreira
Esse Cabelo, Djaimilia Pereira de Almeida
Sinopse
O que se passa por dentro das cabeças é mais importante do que o que se passa por fora? Falar de cabelos é sempre uma futilidade? Não necessariamente, até porque, segundo a narradora deste texto belo e contundente, «escrever parece-se com pentear uma cabeleira em descanso num busto de esferovite» e visitar salões é uma boa forma de conhecer países, de aprender a distinguir modos e feições e até de detectar preconceitos.
Esta é a história de uma menina que aterrou despenteada aos três anos em Lisboa, vinda de Luanda, e das suas memórias privadas ao longo do tempo, porque não somos sempre iguais aos nossos retratos de infância; mas é também a história das origens do seu cabelo crespo, cruzamento das vidas de um comerciante português no Congo, de um pescador albino de M’banza Kongo, de católicas anciãs de Seia, de cristãos-novos maçons de Castelo Branco — uma família que descreveu o caminho entre Portugal e Angola ao longo de quatro gerações com um à-vontade de passageiro frequente. E, assim, ao acompanharmos as aventuras deste cabelo crespo — curto, comprido, amado, odiado, tantas vezes esquecido ou confundido com o abismo mental —, é também à história indirecta da relação entre vários continentes - a uma geopolítica - que inequivocamente assistimos.
Porquê?
Foi o primeiro livro que li de Djaimilia Pereira de Almeida — e também a sua primeira obra publicada — e logo percebi que seria uma autora para acompanhar. Com uma escrita sensível, porém acutilante, a autora usa pequenos detalhes do dia a dia, tendo como ponto de partida o seu próprio cabelo, e transforma-os em reflexões extremamente belas e com as quais vamos identificando problemas estruturais da nossa sociedade.
Notas sobre o Luto, Chimamanda Ngozi Adichie
Sinopse
No dia 10 de junho de 2020, na Nigéria, o académico James Nwoye Adichie morreu subitamente.
Chimamanda Ngozi Adichie, sua filha, partilha connosco os efeitos devastadores que esta morte teve em si. Tece na sua própria experiência os fios da história da vida do pai até aos seus últimos dias, já em confinamento, em que conversava com os filhos e os netos por vídeochamada.
Notas sobre o Luto é um tributo a uma vida vivida em pleno. É a história do amor imenso de uma filha por um pai. Ao falar-nos sobre uma das experiências humanas mais universais, é um livro sobre aquilo que nos une a todos.
Porquê?
Porque nunca é de mais ler sobre a morte e o que sobra dentro de nós quando nos faltam as nossas pessoas. São reflexões que nos levam, inevitavelmente, a celebrar a vida, ainda que se fale na partida. Chimamanda Ngozi Adichie reflete sobre o seu próprio percurso com base na existência do pai e de todo o amor que os unia, dando aos leitores a possibilidade de também fazer parte daquela família e, com eles, experimentar o luto sem eufemismos.
A Outra, Ana Teresa Pereira
Sinopse
«A porta abriu-se sem que ninguém lhe tivesse tocado.
O vento trouxe as folhas para dentro de casa, num movimento suave, com algo de musical.
A porta estava aberta e o vento fazia as folhas entrarem no vestíbulo. As folhas tinham um tom castanho, algumas vermelho forte.
Devia ser o Outono.
A rapariga de vestido castanho estava imóvel num canto. Olhava para a porta com uma expressão assustada.
Era ainda mais jovem do que eu, e muito bonita. Ele gosta de nós jovens e bonitas.
Eles gostam de nós jovens e bonitas.»
Porquê?
Não poderia deixar de sugerir esta conterrânea que me introduziu a vontade de escrever sobre mulheres e não temer o oceano que separa a ilha do continente. Vencedora de vários prémios importantes, incluindo o Prémio Oceanos 2017, mantém-se muito discreta no panorama literário português, não pela falta de talento ou livros publicados, mas pela sua própria personalidade mística, algo que também se bebe na sua obra. Poderia ter escolhido qualquer livro dela, aos quais regresso de vez em quando, contudo proponho A Outra, porque considero que sintetiza a voz de Ana Teresa Pereira: melódica, poética, visual, plástica e sensível.
Iremos!
Já bloqueei o dia 8 de março na agenda! Ansiosa para conhecer a programação!