Neste espaço virtual, que vos chegará na forma de duas newsletters mensais, algo diferentes uma da outra, pretendemos celebrar a enorme diversidade e riqueza que existe na literatura portuguesa escrita por mulheres, para muitos desconhecida.
Em pouco mais de um mês, conseguimos juntar perto de 30 escritoras dos mais variados géneros e com os mais variados percursos, que se propõem a:
entreajudar-se nas questões práticas e nas dúvidas existenciais de quem escreve;
celebrar e divulgar as conquistas de cada uma;
levar as nossas vozes a cada vez mais leitores;
lutar por mais visibilidade nos meios de comunicação e literários;
desconstruir o conceito de literatura feminina, porque a Literatura é só uma e não tem género.
Vamos, por isso, aqui partilhar os nossos eventos, lançamentos, textos, entrevistas e o que mais considerarmos importante para quem nos lê, enquanto prosseguimos com os nossos encontros mensais, ecos de uma verdadeira sororidade.
As escritoras,
Carla M. Soares, Catarina Costa, Célia Correia Loureiro, Cláudia Araújo Teixeira, Cláudia Lucas Chéu, Dulce Garcia, Elisabete Martins de Oliveira, Filipa Fonseca Silva, Filipa Martins, Gabriela Relvas, Helena Magalhães, Iris Bravo, Joana Bértholo, Joana Kabuki, Lénia Rufino, Mafalda Santos, Maria Francisca Gama, Maria Isaac, M.G.Ferrey, Patrícia Madeira, Patrícia Reis, Rita Cruz, Rita da Nova, Sara Rodi, Susana Amaro Velho, Susana Piedade, Tânia Ganho, Valentina Silva Ferreira.
Agenda
Onde e quando nos podem encontrar, neste primaveril mês de maio.
Dia 3
Valentina Silva Ferreira | Ribeira Brava. Feira do Livro | Apresentação do livro “Vertigens” | 15h
Dia 4
Tânia Ganho | Amadora. Biblioteca Fernando Piteira Santos. | Clube de Leitura: análise de obras de Natália Nunes (entrada livre) | 18h30
Dia 7
Alcochete. Biblioteca Municipal. | À Volta da Língua: encontro com os escritores Filipa Fonseca Silva, Tânia Ganho, David Machado e João Pinto Coelho | 16h30
Dia 9
Joana Kabuki | Lisboa. FNAC Chiado. | Apresentação do livro “Viradas do Avesso” | 18h30
Dia 12
Tânia Ganho | Lisboa. Hotel Memmo no Príncipe Real. | Apresentação do livro “Leme” de Madalena Sá Fernandes | 18h30
Dia 13
Oeiras. Biblioteca de Oeiras | Debate: O Papel das Mulheres na Literatura com Filipa Fonseca Silva, Helena Magalhães, Dulce Garcia e Maria Isaac | 15h30
Dia 20
Iris Bravo | Lisboa. Biblioteca de Marvila | Clube de Leitura de Marvila | 15h
Dia 21
Patricia Madeira | Oeiras. FNAC. | Book talk | horário a definir
Valentina Silva Ferreira | Machico. Feira do Livro. | Apresentação do livro “Vertigens” | 15h
Dia 27
Elisabete Martins de Oliveira | Lisboa. Feira do Livro. Espaço Infinito Particular | 15h
Filipa Fonseca Silva | Lisboa. Feira do Livro. Espaço Penguin Randhom House | 16h
Gabriela Relvas | Castelo Branco. Livraria Bertrand | Sessão de autógrafos | 16h30
Dia 28
Mafalda Santos | Lisboa. Feira do Livro. Espaço Penguin Randhom House | 16h
Iris Bravo | Lisboa. Feira do Livro. Espaço Grupo Infinito Particular | 17h
Patricia Madeira | Lisboa. Feira do Livro. Espaço Editora Cultura | 18h
Sara Rodi | Lisboa. Roteiro literário em torno de “O Quanto Amei - Fernando Pessoa e as Mulheres da sua Vida” com a Oui Go Lisbon | 10h45
Entrevistas e Podcasts
Sérgio Almeida: A sua estreia em livro aconteceu apenas há pouco mais de dois anos. Era um sonho eternamente adiado?
Rita Cruz: Creio que em tempos o foi, mas depois, como tantos outros sonhos, foi esquecido. Não adiado, mas esquecido mesmo. A vida foi criando os seus contornos e limites, deixando sonhos inúteis de fora, com naturalidade, sem tristeza, que sou demasiado consciente dos meus privilégios para me dedicar a ela. Estudei, trabalhei nas áreas em que me formei, tive dois filhos com idades próximas, a vida tomou conta dos dias. Foi só por acaso que escrevi o meu primeiro livro. Porque tive, inesperadamente, tempo para o fazer, e quis oferecer à minha família e amigos qualquer coisa feita por mim - e, como disse na nota que fiz acompanhar a edição de autor do "No País do Silêncio", não sei fazer mais nada que não seja escrever.
SA: Enquanto profissional da fisioterapia tem trabalhado de perto com refugiados. Tem sido uma aprendizagem humana valiosa que se reflete de algum modo na escrita?
RC: Como fisioterapeuta acompanho uma clínica de convalescença para refugiados na Malásia, mas antes de ser fisioterapeuta fui cooperante internacional. Esse trabalho, como já o disse noutros lugares, moldou-me como pessoa. Passei pela Colômbia, onde acompanhei defensores de direitos humanos e comunidades de camponeses deslocados pela guerra, estive no Afeganistão depois da invasão estadunidense e no Sri Lanka depois do Tsunami de 2004. Acompanhei situações delicadas de violações de direitos humanos e sociedades instáveis, brutais. Aprendi a ver o que é invisível, conheci-o, e descobri-me a mim nele. Tudo o que vivi e vivo está na minha escrita, na forma como vejo o mundo que vivemos, os seres que o habitam. Sim, está tudo lá. Se não tivesse vivido tudo isto, a minha escrita não seria esta, mas outra.
SA: Nos últimos tempos têm-se sucedido os exemplos de autores célebres entretanto desaparecidos cujos livros são vítimas da chamada "cultura de cancelamento", em virtude de comentários ou expressões suscetíveis de ofenderem os ditos mais sensíveis. É de censura que se trata, em sua opinião?
RC: É censura, claramente. Os livros são documentos históricos, foram escritos de determinada forma porque assim era permitido e aceite, porque assim era o pensamento, e é importante que o saibamos. Que o discutamos. Foi assim, a evolução do pensamento, era assim, que as coisas eram ditas e feitas. A cultura do cancelamento não é muito diferente da eliminação de personagens incómodos numa fotografia. Creio também que é relevante que pensemos porque se faz... é para proteger as crianças e os adolescentes, ou é porque se teme que esses escritores deixem de ser lidos e, consequentemente, deixem de dar lucro? Pensemos, sejamos críticos e deixemos de temer olhar para a história tal como ela foi, e não de forma esterilizada e infantilizada. É perigoso, de resto, fazê-lo dessa forma.
Diz na contracapa de E se eu morrer amanhã?: “Helena é uma viúva de 79 anos, aparentemente pacata.” A autora Filipa Fonseca Silva pega num tema que considera universal, o envelhecimento, para falar da sexualidade dos mais velhos. “A sexualidade faz parte de um envelhecimento saudável”, resume ao PÚBLICO a escritora, cuja editora Suma de Letras anuncia ser “a primeira autora portuguesa a atingir o top 100 da Amazon”.
Em Portugal, o tema ainda é tabu, acredita, seja na comunicação social ou na literatura. “Quando há protagonistas mais velhos, são sempre apresentados com alguma fragilidade, estão doentes, vão para o lar... Nunca temos um protagonista octogenário com vida. Pensei: eu quero dar visibilidade às mulheres que não desaparecem depois da menopausa. Está na altura de criar personagens, mulheres maduras, mostrá-las, porque são uma parte significativa da nossa sociedade.”
Helena Magalhães
https://comunidadeculturaearte.com/prosa-no-ar-ferozes/
Gabriela Relvas
https://radiocomercial.pt/noticias/129127/romance-gula-de-uma-rapariga-esqueletica-de-amor
Maria Francisca Gama
Rita da Nova
Valentina Silva Ferreira
"Valentina Silva Ferreira e o seu novo livro Vertigens" Parte 1 e Parte 2
Lançamentos do mês
Sempre que vasculhamos as memórias, é como se levantássemos um tapete cujo pó escondido se espalha no ar à nossa volta.
Berta, Alice e Carlota são inseparáveis. Jovens e inocentes, desconhecem que a força do passado não encontra limites. Na sequência de um trágico acontecimento, Berta desaparece. A brutalidade dos eventos muda irremediavelmente as suas vidas, condicionando as suas escolhas e os seus caminhos.
Vinte anos depois, Berta reaparece de forma tão enigmática como desaparecera. O reencontro das três mulheres origina o desfiar de memórias difusas e revela segredos e traumas há muito encarcerados. Ao invés de verem sarar as feridas, confrontam-se, uma vez mais, com novos e profundos golpes. Qual o verdadeiro motivo que levou ao desaparecimento? Passados tantos anos, serão capazes de desenlear o nó das suas vidas e reconciliar-se com o passado e consigo próprias?
Fascinada pelo comportamento e pelas relações humanas, Joana Kabuki escreve sobre sentimentos universais e leva-nos a refletir sobre como, muitas vezes, vivemos aprisionados no tempo. Um romance surpreendente e original sobre a relatividade das memórias, o peso do passado e a derradeira escolha sobre quem queremos ser quando a vida nos vira do avesso.
Pequenos gestos podem mudar o rumo de uma vida.
Elias vive sozinho numa casa demasiado grande, já sem os três filhos, que emigraram, e sem a mulher, que morreu. Quando uma família se muda para a moradia ao lado — entre as muitas que de repente chegaram à Margem Sul do Tejo, desafiando-lhe o sossego —, desenvolve antipatia e desconfiança para com os vizinhos.
Do outro lado, contudo, um rapaz negligenciado pelos pais e pela avidez da vida moderna vai-se aproximando, curioso, apesar das barreiras erguidas por Elias. Com Santiago a começar de forma turbulenta o quinto ano na escola nova, o menino procura consolo e atenção junto do vizinho.
A sintonia entre Elias e Santiago cresce, mas uma notícia perturbadora vem ameaçar-lhes a amizade e trazer ao de cima as vidas difíceis que levam, e os segredos que escondem um do outro.
O Bairro das Cruzes é a história da Luísa. E da Rosa. É a história das cruzes que se carregam desde a infância e que condicionam escolhas. Caminhos que se seguem e outros que se evitam. O Bairro das Cruzes mistura comunistas e PIDE e sobrevive às cheias de Lisboa.
Carrega um fardo pesado e agarra à terra quem lá nasceu. Numa história que podia muito bem ser a nossa, Susana Amaro Velho mostra-nos como as raízes, a família e os laços que criamos na infância podem influenciar-nos para sempre. Faz nos rever os nossos avós, numa narrativa rápida e pontuada por detalhes cheios de humor, num romance que revela as gentes e as histórias do Portugal dos anos setenta. 18 de Maio nas Livrarias.
Leitura do mês
Este mês, a Filipa Fonseca Silva partilha um artigo sobre o conceito que está por detrás deste grupo: sororidade.
Mulheres, da rivalidade à sororidade
Nós, mulheres, somos tendencialmente más umas para as outras. Através da arte de maldizer, gostamos de minimizar feitos e acentuar rivalidades que, na maior parte das vezes, apenas existem na nossa cabeça. Que está mais gorda, que está muito magra, que está cheia de rugas, que está mal vestida, que não se cuida, que deixa os filhos fazerem tudo, que nunca sai de casa, que sai demasiado de casa, que está casada com um mono, que não assenta com ninguém, que é uma púdica, que é uma puta, que o sucesso lhe subiu à cabeça, que deve ter dormido com alguém, que é rica mas está sozinha, que é casada mas infeliz, que é bonita mas burra, antipática ou desinteressante e por aí fora. Frases como estas ecoam nas conversas de café, em jantares de amigos e nos mais diversos eventos sociais, dirigindo-se a conhecidas e desconhecidas, a colegas de trabalho e até mesmo a familiares. Esquecemo-nos é que, quando dizemos qualquer uma destas frases, estamos apenas e só a perpetuar uma construção da sociedade patriarcal.
A rivalidade entre mulheres é um conceito que tem por base a busca por validação masculina. Durante séculos fomos educadas para agradar aos homens de modo a conseguir agarrar o melhor pretendente, que garantisse o nosso sustento e o dos nossos filhos. Tínhamos de ser a mais bonita, a mais desejada, a mais prendada, a melhor mãe, a melhor filha, a melhor esposa. Fomos também educadas para desconfiar das outras mulheres, assumindo que só se aproximam de nós para nos roubar o marido, o emprego ou a mera receita daquele bolo que toda a gente elogia. É uma narrativa que começa a desenrolar-se logo na infância, quando nos contam histórias de embalar com uma Rainha Má, que quer matar a Branca de Neve apenas porque ela é a mais bela, ou uma Úrsula, que engana a pequena Ariel para lhe roubar a magnífica voz. Mulheres boas e mulheres más, divididas, separadas, irreconciliáveis. Até que aparece um príncipe para salvar a boazinha da sua rival, apaixonam-se à primeira vista (porque o que interessa é o exterior) e vivem felizes para sempre. Moral destas histórias para enganar meninas: desconfiem sempre das mulheres e contem com os homens para resolver os vossos problemas. É por isso que, ainda hoje, quando tantas de nós já nos assumimos como feministas e lutamos juntas pelos nossos direitos, continua a ser difícil elogiar espontaneamente outra mulher e, principalmente, defendê-la sem hesitar sempre que ouvimos uma frase como as acima mencionadas.
Obrigada por nos ler e até ao próximo mês!
Fantástico, muitos parabéns!
Parabéns pela iniciativa!