A vida pós-férias
E ei-lo, o mês de Setembro a bater à porta. À pressa, limpamos a água salgada dos banhos de mar que ainda temperam a pele, guardamos as férias em fotografias, engavetamos biquínis e calções. Ainda conseguimos fazer contas aos livros que lemos, quando as horas passavam devagar, e lamentamos que deixem de o fazer. Em vez de planos de férias, fixamos na parede o horário de trabalho e da escola — nossa ou dos filhos. Recomeçamos, todos os anos, em dois momentos: Janeiro, num Ano Novo, e Setembro, no regresso à vida pós-férias.
Deste lado, o regresso é a sério logo nas primeiras semanas do mês com as Feiras do Livro do Porto e Belém, num rodopio de eventos individuais e discussões colectivas sobre os preconceitos que existem e persistem no panorama literário português. Depois abrandamos e espalhamos tentáculos por outras regiões: Amadora, Ovar e, bem lá longe, Maputo!
Mas antes de recomeçar a vida pós-férias, convidamos-vos a um último momento de sossego. A melhor forma é sempre na companhia de um livro e, este mês, é a Maria Francisca Gama que partilha sugestões. São três títulos recentes que a marcaram de forma diferente: um como inspiração, outro como convite à reflexão, e um último pela doce e dolorosa partilha de um sentimento universal.
Bom regresso e continuação de boas leituras,
Clube das Mulheres Escritoras
Agenda
31 de Agosto
Vera dos Reis Valente | Feira do Livro do Porto | Sessão de autógrafos | 14h30
4 de Setembro
Rita Canas Mendes | Apresentação do Teoria das Catástrofes Elementares no Instituto Camões de Maputo, Moçambique
5 de Setembro
Filipa Fonseca Silva, Gabriela Relvas e Sara Rodi | Book 2.0 | Conversa sobre o Clube das Mulheres Escritoras — Quebrar Preconceitos | 15h40 — Museu do Oriente
6 de Setembro
Célia Correia Loureiro | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 19h
7 de Setembro
Maria Francisca Gama | Feira do Livro do Porto | Sessão de Autógrafos | 16h
Filipa Amorim | Feira do Livro do Porto | Sessão de Autógrafos | 16h
Rita da Nova | Feira do Livro do Porto | Sessão de Autógrafos | 17h
Gabriela Relvas | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 18h
Sara Rodi | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 19h
Filipa Fonseca Silva | On-line com o Clube de leitura de Analita Alves dos Santos | 21H30
8 de Setembro
Gabriela Relvas | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 15h
Maria Francisca Gama | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 16h
Filipa Amorim | Feira do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 16h
Rita da Nova | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 16h
Filipa Fonseca Silva | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos — Espaço Penguin | 17h
Mafalda Santos | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos | 17h
Filipa Fonseca Silva | Festa do Livro de Belém | Sessão de Autógrafos — Espaço Cultura | 18h
Clube das Mulheres Escritoras | Festa do Livro de Belém | Conversa sobre os preconceitos no panorama literário português | 19h
14 de Setembro
Filipa Fonseca Silva | Festa do Livro da Amadora | Literatura e redes sociais: conversa com Bruno Leão, moderação de Rita da Nova | 17h
21 de Setembro
Célia Correia Loureiro | FLO — Festival Literário de Ovar | Noite (hora a reconfirmar)
27 de Agosto a 25 de Setembro
Rita Canas Mendes | Residência Literária em Maputo, Moçambique | Instituto Internacional da Língua Portuguesa (CPLP)
Partilhas
Nesta edição, deixamos-vos com a entrevista que a Gabriela Ruivo deu à Trafika Europe Radio, a propósito do seu romance Lei da Gravidade, nomeado para o prémio União Europeia de Literatura:
Sugestões de Leitura
por Maria Francisca Gama
A Desobediente - Biografia da Maria Teresa Horta, de Patrícia Reis
Cresci a ouvir a minha mãe a elogiar a Maria Teresa Horta: não em particular a sua obra, creio que leu, apenas, A Paixão Segundo Constança H., mas sim a importância que teve no movimento feminista português, dentro e fora do mundo das Artes. Ler este livro — descobrir mais da sua vida, da sua família, da sua grande paixão — foi uma inspiração sem igual. Senti-me pequenina como acho que, por vezes, nos temos de sentir para querermos ser mais e maiores. Apesar de ser aquilo a que hoje muitos chamam de calhamaço, li-o sem parar, em dois ou três dias, porque a narrativa é fluída, interessante e muitíssimo bem estruturada: a cada capítulo conhecemos uma parte diferente da Maria Teresa, as suas bases, os seus sonhos, as batalhas que travou. Um dos melhores livros que li este ano.
E então, lembro-me, de Catarina Costa
Se gostam de ler distopias e fazem parte do grupo de leitores que são agarrados por premissas novas e fascinantes — pela reflexão que provocam e a sensação de que estamos a ser tão enganados quanto as personagens —, este livro é para vocês. A personagem principal, Laila, acorda na cama de um hospital de uma cidade cercada por muros altos e intransponíveis, sem memória. Tal como ela, uma série de pessoas, a quem foi extorquida a memória autobiográfica, estão ali, com o intuito aparente de servirem de mão-de-obra num complexo fabril. Quem somos nós quando não nos recordamos de quem fomos? Como é que uma sociedade se organiza quando todos partem da ignorância acerca do sítio onde começaram?
O meu pai voava, de Tânia Ganho
Há poucas coisas mais universais do que o luto: ora porque o vivemos, ora porque inevitavelmente vamos passar por ele, mais cedo ou mais tarde. Neste livro de memórias, honesto, bonito e capaz de nos arrancar lágrimas e gargalhadas na mesma medida, encontramos o pai da Tânia, a Tânia pequenina, a mãe Tânia, a filha da mãe e do pai, Tânia. Encontramos, também, um pouco de cada um de nós: a necessidade de ser amados por quem nos trouxe aqui, o receio de que as memórias da velhice dos nossos pais suplantem os feitos heroicos a que os associámos durante a infância, a inversão — tantas vezes dolorosa —, do papel de ser cuidado para cuidador. Gostei muito.